Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Forte da Laje: vista panorâmica a partir do Forte de São João. | ||
Localização | ||
Construção | João IV de Portugal (1644) | |
Estilo | Abaluartado | |
Conservação | Bom | |
Aberto ao público |
O Forte Tamandaré da Laje localiza-se na ilha da Laje, cidade e estado do Rio de Janeiro, no Brasil.
Em posição estratégica no lado direito do interior da barra, ergue-se sobre uma pedra chata com as dimensões aproximadas de 100 metros de comprimento por 60 de largura, defendendo o acesso à baía de Guanabara entre o meado do século XVII e o final do século XX.
Índice |
História
Antecedentes
A atual fortificação sucedeu a Bateria Ratier, tentada sem sucesso, em 1555, pela expedição de Nicolas Durand de Villegagnon (1510-1571), que fundou a França Antártica.
O forte seiscentista
À época da Dinastia Filipina em Portugal, o Governador da Capitania Real do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá, em seu segundo governo (1577-1599), pretendeu erigir um fortim na ilha da Lage em 1584. Tendo sido dissuadido pelo engenheiro espanhol no Brasil, acabou por reforçar as defesas da Bateria de Nossa Senhora da Guia (atual Fortaleza de Santa Cruz da Barra) e da Fortaleza de São João (SOUZA, 1885:105).
Findo o domínio espanhol, a Carta-Régia de 2 de Agosto de 1644 (Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro), determinou erguer uma fortificação na Laje, aplicando-se para as despesas de sua obra a metade do dinheiro do cunho das patacas. Data desse período a sua representação por Manoel Vaz Pereira (Demonstração da barra do Rio de Janeiro e Planta da Laje, 1645. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa), que detalha a Laje que está no meio da barra, ainda sem edificação. Tendo as obras sido iniciadas no governo de Francisco de Souto Maior (1644-1645), o seu sucessor, Duarte Correia Vasques (1645-1648), destinou as rendas da venda dos terrenos da rua Direita (atual rua 1° de Março, no centro histórico do Rio de Janeiro), para o mesmo fim. Em 1690, eram expedidas ordens para a conclusão do forte.
O forte setecentista
As obras devem ter registrado progressos lentos, a julgar ainda por duas plantas assinadas por Diogo da Silveira Veloso (Plantas de uma fortaleza a construir na Laje, para a defesa da barra do Rio de Janeiro, c. 1704. AHU, Lisboa) (IRIA, 1966:72). Sem artilharia, não ofereceu combate quando da invasão do corsário francês René Duguay-Trouin, em Setembro de 1711. As obras prosseguiam ainda no governo de Francisco Xavier de Távora (1713-1716), autorizado a aplicar nelas 40 mil cruzados oriundos dos direitos de Alfândega, pelas Cartas-Régias de 26 de Janeiro de 1715 e de 24 de Dezembro de 1716 (SOUZA, 1885:105-106). São deste período a Elevação da Fortaleza da Laje, cortada pelo meio da sua altura, c. 1714 (AHU, Lisboa) (IRIA, 1966:73), e a Planta da Laje e Fortaleza que se há de fazer, c. 1714 (AHU, Lisboa) (IRIA, 1966:73). Em 1730 já se podia observar a estrutura (Planta da Fortaleza da Laje na barra do Rio de Janeiro, 1730. AHU, Lisboa) (IRIA, 1966:74). Estas obras, entretanto, só foram concluídas em 1770, no governo do Vice-rei D. Luís de Almeida Portugal (1769-1779).
O forte oitocentista
Em 1836 serviu de prisão ao líder revolucionário Farroupilha Bento Gonçalves e a Pedro Boticário. Em 15 de março de 1837, ambos tentaram uma fuga, mas Pedro Boticário, por ser muito gordo, não conseguiu passar por uma janela. Em solidariedade Bento Gonçalves também desistiu da fuga, sendo ambos transferidos, logo após, para outras prisões.
GARRIDO (1940) complementa que, em 1838, o forte estava guarnecido por 280 praças sob o comando do Major José Gomes da Silva, artilhado com vinte peças (op. cit., p. 117). SOUZA (1885) informa que esta estrutura apresentava planta no formato de um polígono hexagonal irregular, sendo deficiente por sua pequena elevação e por se encontrar a descoberto.
De sobre as suas pedras, o então tenente Antônio Carlos de Mariz e Barros corajosamente conseguiu evitar o naufrágio de uma barca francesa, o que lhe valeu receber do governo daquele país, a Legião de Honra.
No contexto da Questão Christie (1862-1865), a Comissão de Melhoramentos do Material do Exército, em seu Plano de Defesa do Porto, apresentado em 1863, propôs a construção de uma torre encouraçada, de dois pavimentos, artilhada com seis a oito canhões de grosso calibre, para sanar essas deficiências. Nesse contexto foi classificado como fortificação de 2ª Classe (op. cit., p. 106) pelo Aviso Ministerial de 1863. Estava então artilhado com vinte e oito peças, e guarnecido por soldados da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, a quem se subordinava (SOUZA, 1885:106). Passou por reformas em 1874-1875, e em 1889 (GARRIDO, 1940:117).
A República Velha
Na República Velha participou, a 20 de Janeiro de 1892, juntamente com a Fortaleza de Santa Cruz, de um levante militar contra o Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto (1891-1894), liderado pelo Segundo-Sargento Silvino Honório de Macedo, logo sufocado (TINÉ, 1969:121; VILLA, 1997:65-66).
Procedidos os reparos devidos pelos bombardeios durante a Revolta da Armada (1893), que lhe causaram extensos danos, recebeu canhões Krupp C15 L/40 em 1895, sendo-lhe iniciadas obras de modernização a partir de 1896, terminando-se em Abril de 1901 a estrutura principal e a montagem das cúpulas de aço. Em 1903 foram instaladas uma torre com dois canhões de 240mm, outra com dois canhões de 150mm, e duas com dois canhões de 75mm, além de instalação e montagem de parte elétrica. Obras complementares foram efetuadas até à inauguração em 28 de Julho de 1906 (instalação de portão e janelas de aço externamente, e portas internas), 1907 e 1909 (GARRIDO, 1940:118-119).
Pelo Decreto nº 34.152 de 12 de Outubro de 1953 o Forte da Laje passou a denominar-se Forte Tamandaré, uma homenagem do Exército à Marinha de Guerra. Estava guarnecido, na década de 1950, pela 1ª Bateria do 4ª Grupo de Artilharia de Costa (BARRETTO, 1958:226-227), conservando-se em serviço até 1997, subordinado à Fortaleza de São João, quando foi desativado.
Curiosidades
Nesta fortificação estiveram detidos vários personagens da História do Brasil:
- José Bonifácio de Andrada e Silva e seus irmãos, Cipriano José Barata de Almeida (1762-1838), e outros deputados após o fechamento da Assembléia Constituinte (Novembro de 1823);
- o Major Miguel de Frias e Vasconcelos, após o evento de 28 de Setembro de 1831 denominado "tiros no teatro" (Anais do Museu Histórico Nacional, 1940:147);
- os quatro condenados à morte pelo crime da Ilha da Caqueirada, dos quais três se suicidaram em suas masmorras, no ano de 1838;
- o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, um dos líderes da Revolução Liberal de 1842;
- o Capitão Pedro Ivo Veloso da Silveira (1811-1851), líder militar da Revolução Praieira (1848-1850), que condenado à prisão perpétua, dali se evadiu espetacularmente num escaler (9 de Abril de 1851); e
- o poeta Olavo Bilac (1893), aí detido alguns meses por críticas ao Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto (1891-1894) (GARRIDO, 1940:117).
- o Marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott, Ex-Ministro da Guerra de JK, militar exemplar e legalista, por se colocar contra ao golpe de estado que se ensaiava em 1961, quando criticou a posição dos ministros militares que não aceitavam a posse de Jango.
Bibliografia
- BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368 p.
- GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.
- IRIA, Alberto. IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros - Inventário geral da Cartografia Brasileira existente no Arquivo Histórico Ultramarino (Elementos para a publicação da Brasilae Monumenta Cartographica). Separata da Studia. Lisboa: nº 17, abr/1966. 116 p.
- SOUSA. Augusto Fausto de. A bahia do Rio de Janeiro: sua história e descripção de suas riquezas. Rio de Janeiro: Typographia Universal de H. Laemmert & C.. 1882. p. 109.
- SOUZA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.
- TINÉ, José Sales. História do Brasil (4a. ed.). Rio de Janeiro: Gráfica Muniz S/A, 1969. 140p. mapas
Nenhum comentário:
Postar um comentário