Mas foi largar e a festa tomou outro rumo. No início era apenas a adrenalina de andar junto das outras equipees femininas, mas foi virar o Cara de Cão e a adrenalina passou a ser manter a segurança da canoa. Tirei os olhos das outras canoas e mandei a energia para dentro da nossa. Precisaríamos por todo o trecho.
O mar algumas vezes nos ensina que nada sabemos. Não lembro de ter remado por ali naquelas condições. Uma ondulação constante atacando a ama e um vento danado ameaçando levantar os iacos.
Uma virada errada no Cara de Cão e perdemos a reta em direção à Cotunduba. O rabo da canoa entrou e fomos jogadas de encontro ao paredão. Deveria ter segurado e deixado ela ir reto depois de costear o Cara de Cão, nada de entrar naquela enseada traiçoeira, ainda mais de rabo!
Finalmente descobri porque aquele trecho é tão perigoso por ali. Canoa fora do rumo e os braços femininos dificilmente conseguiriam nos tirar dali. Era preciso muita força para corrigir meu descuido. Mas entre gritos e sustos, as meninas tiraram a força de dentro da alma e nos livramos por pouco de nos arrebentar na esquina do Cara de Cão.
Pensei... proteção? Só mesmo os coletes e uma lancha de apoio com dois tripulantes. Não tínhamos cabo para arrasto e nem gente para ajudar a desvirar a canoa em caso de huli. Muita água entrando na canoa mas só fomos escoá-la na virada da bóia da Cotunduba. Precisávamos da força da Carlota no remo e não tirando água...
As canoas sumiram lá na frente e eu só pensava em chegar sã e salva com as meninas.
Mais um erro de leme e a corrente nos levou ao encontro do Forte Lage enquanto as canoas seguiam pelo meio do canal. Muita força para sair da reta do Lage e voltar ao rumo. Isso nos custou dez minutos atrás da primeira canoa e cinco minutos atrás da terceira.
Aprendizado? O mar sempre ensina. Humildade e respeito, palavras gêmeas que devem estar sempre dentro da canoa. Parabéns para quem soube pactuar com o vento e as correntes e parabéns para minha equipe que enfrentou um dos piores mares que vi por ali!
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